quinta-feira, 3 de maio de 2012

"Eu te amo" é coisa de bêbado!

Se um bêbado nunca te ofereceu uma dose sincera de “eu te amo”, sugiro que corra pro bar agora. É quando a vaidade e a audição dispensam água e se atracam em público, incitando um sorriso tímido, pseudo-humilde, em quem ouve. “Eu te amo”, a frase mais aguardada dos relacionamentos, é inflamável e sobe rapidinho. Quando amanhece, a gente descobre que encheu a cara de amor falsificado. Quem já aceitou um gole dessa frase, com bafo de bebida, reflete sobre o gosto de cabo de guarda-chuva que ela deixa na cabeça.

Pessoas descartam “eu te amo” pra qualquer um, além do santo. Não pensam que cada letra pode estufar a esperança de quem escuta. Quem já recolheu shots da frase e, no dia seguinte, teve de devolver, sabe como é transformar a vida de alguém em mais um drinque de open bar.

É como se as pessoas estivessem condicionadas a amar eternamente por algumas horas. Os romances estão parecendo balada em Las Vegas: aspire até a última gota, case com uma desconhecida sob a bênção de um cover do Elvis. Ame até o suspiro final. No dia seguinte, flashes fingidos.

Fica difícil dizer “eu te amo”, em dias de amnésia afetiva.

Pessoas soluçam esse amor pra se livrar do caos, que embebeda o corpo, e não esperam que alguém cure com três goles de água ou um susto. Quando “eu te amo” vaza, tudo o que elas menos precisam é que esse soluço passe. “Eu te amo” é texto que escapa, porque o peito ficou fraco pra engarrafar. Precisamos de alguém soluçando junto. Mas “eu te amo” é monólogo.

Se você foi o primeiro do relacionamento a virar o copo e dizer, aguente a ressaca. “Eu te amo” nem sempre desce redondo. A resposta pode se apresentar em uma pausa de vinte tropeços. Pode ser mais três saideiras. Pode ser copo quebrando. Pode ser “saúde” ou “obrigado”. Pode empapuçar.

Sabe o dia depois do porre? Aquele na companhia de refrigerante e voltar cedo e sozinha pra casa. Quando você bebe devagar, pra não doer amanhã. É que o medo faz. Fecha a sua conta no bar, pro ouvido parar de insistir. De chorinho, sobra a vontade de acreditar em “eu te amo” sem Engov e acordar dizendo e dizendo e dizendo, sem cambalear, sem enrolar a língua, dessa vez.

Fonte: por Priscila Nicolielo em http://www.casalsemvergonha.com.br/

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