quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Cabeça fechada fode o mundo...

Muitas são as hipóteses acerca dos males mais nocivos do mundo – eu, ouso dizer que a cabeça fechada é um dos top da lista. Tradições são boas, porque trazem aspectos culturais enraizados nas nossa história. Mas, em certo momento, é preciso deixá-las ir. Se prender a certos ideais antigos é como se recusar afirmar que o computador é muito mais prático e ágil que a máquina de escrever – e passar o resto da vida datilografando caracteres no papel através de uma fita com tinta. Não menosprezemos o valor da máquina de escrever – ela foi imprescindível no passado – mas hoje, é preciso aposentá-la.

Quando disse que a cabeça fechada é um dos maiores males do mundo, o fiz por saber que ela é a grande motivadora de sofrimentos evitáveis. Pessoas que não conseguem enxergar fora da caixa, passam a vida toda se prendendo à ideias que já se foram e, consequentemente, sofrem, e causam sofrimento alheio. Essas pessoas sofrem pois deixam de viver experiências que seriam importantíssimas pro seu crescimento, por se prenderem a valores antigos. Arrisco dizer, que uma das responsáveis por cultivar o pensamento retrógrado de algumas pessoas é a igreja. Antes de argumentar, gostaria de deixar claro que respeito todas as religiões e crenças, o que não significa que não tenhamos o direito de questionar algumas regras impostas por ela.

Estava, outro dia, acompanhando uma amiga na igreja por insistência dela. No meio do discurso do padre, eis que de repente ouço a seguinte frase: “Nos livrai do mal!” “Aleluia”. “Nos livrai da tentação!” “Aleluia” “Nos livrai do homossexualismo” “Aleluia” . O quê? Juro que parei por alguns instantes e fui conferir na minha folha com as orações, se a informação procedia. E, de fato, não tinha ouvido errado. Um padre, responsável por influenciar centenas de mentes que estavam lá ouvindo atentamente e dizendo amém para quaisquer coisas que fossem pronunciadas por ele, tinha acabado de dizer esse absurdo.

Mais tarde, ainda pensando nesse absurdo entre outros que ouvi – e que talvez passaram despercebidos pela multidão em meio a tantas exaltações – fui questionar o fato com algumas das pessoas que disseram ou que disseriam amém. Argumentei que não há nada de errado e muito menos, de mal, com a homossexualidade, que ela não é uma escolha. Homossexuais apenas sentem atração por outro gênero que os heterossexuais. Não há absolutamente nada de errado nisso. E ouvi de volta que, se Deus tinha feito o homem e a mulher, essa era a norma. Depois de mais algumas tentativas de mostrar meu ponto de vista, desisti depois de ouvir a resposta: Deus quer assim. Me desculpe, não estou aqui questionando crença alguma, mas esse não é um argumento válido. Eu estou argumentando, por favor, faça o mesmo. É como usar o “porque sim” como resposta. Não meu amigo, já sabemos que “porque sim” não é resposta.

Não consigo entender como religiões que, em teoria, deveriam pregar o amor ao próximo, continuam pregando o desrespeito, a desigualdade, o julgamento. O que faz alguém achar que está em uma posição superior ao ponto de querer julgar qualquer aspecto da vida do outro? Religiões deveriam pregar a aceitação, invés do julgamento. O amor, invés do preconceito.

Outro dia, conversava com uma moça que namorava há alguns anos com um rapaz. De fora, não era preciso fazer muito esforço para perceber que a harmonia não era o estado que reinava entre eles – brigas, cara feia, cobranças eram expostas pra quem quisesse ver. Histórias de traição também já circulavam entre os amigos, que não comentavam o caso pra não se intrometer na vida alheia. E, eis que em algum momento da conversa, ela me disse que eles iriam casar e que só iam morar junto depois de papel passado. Senti quase um pânico ao ouvir tais palavras e quase sacudi a moça dizendo: “Pelamor, não faz isso.” Mas, a ética me trouxe de volta a realidade e me controlei porque sabia que existe um ponto até onde devemos e temos o direito de tentar convencer pessoas. A verdade estava na cara – se eles brigavam o tempo todo e mal demonstravam sinal qualquer de amor ou de afeto, imagina quando fossem morar juntos. O stress, só se potencializa. Tentei, sem pressão, perguntar porque ela não fazia um teste, não ia morar junto antes pra ver como eles se davam e tal. Ela disse: “O sonho dos meus pais é que a gente se case na igreja.”

Parei por ali. Não consigo entender como alguém pode tomar uma decisão tão séria como essa pra viver o sonho dos pais. Certo, pais fazem de tudo pelo nosso bem, nos criam, nos sustentam, nos amam – mas é preciso haver um limite entre viver a sua vida e viver a vida do outro – não importa quem seja. Os pais da garota em questão, já tinham tido a chance de viver seus sonhos, agora era a vez dela. E mais uma vez a tradição fala mais alto que a liberdade individual. Via-se na falta de brilho do olhar da moça que ela não estava feliz com aquilo. Mas queria satisfazer os outros.

                                     

Sem contar os inúmeros casos de acesso de ciúme que ouvimos por aí. Sempre que escuto alguém contar sobre acessos de ciúme, sobre controle do outro, sobre sentimento de posse, argumento – Não é possível possuir ninguém. O outro não te pertence, não é possível controlá-lo. Use essa energia pra fazer o relacionamento de vocês mais feliz. Se esforce sempre pra fazer com que ele seja foda todos os dias e não só de vez enquando. E, não raramente, ouço de volta – “Eu sou assim mesmo, não vou mudar.” Hã? Então quer dizer que você enxerga que está tendo uma atitude destrutiva – com você e com o outro – mas não vai fazer nada a respeito? Não vai nem tentar? Onde fica a parte da evolução da vida? Jura que você não quer nem tentar melhorar? Essas respostas realmente fogem do meu entendimento.

Poderia ficar aqui citando eternamente casos de pessoas que não abrem a cabeça para enxergar fatos que estão debaixo do seu nariz, mas acredito que os exemplos acima tenham servido para ilustrar meu ponto de vista. Se os seres humanos não tivessem aberto a cabeça, negros ainda seriam escravos hoje em dia e mulheres não teriam permissão de trabalhar – seriam sempre inferiores aos homens. Hoje é fácil enxergar isso – mas somente porque, no passado, alguém se revoltou, foi contra as ideias da massa e chegou a simples conclusão: “Pera aí – tem alguma coisa errada. Isso não funciona, não faz mais sentido algum seguir adiante com essa ideia.” Pra mim, é sempre lucro tirar a venda dos olhos e enxergar novas realidades. É isso que coleciono. E o grande mal da vida não é não ter visto um dia – é não querer tirar os óculos escuros, mesmo quando o Sol já se foi.

Um comentário:

  1. Oi, Bebela!!
    Acho que devemos lutar por aquilo que pensamos e que a nossa consciência manda. Um padre ou pastor não pode incutir a população coisas que não são da ordem de Deus. Ele não está acima dos ensinamentos divinos e tão pouco das leis da humanidade. Esse tipo de conduta, vale um boletim de ocorrência, pois a Lei nº 5003-b/2001 versa sobre os crimes de homofobia.
    Beijus,

    ResponderExcluir